Para
aliviar o clima, vamos falar um pouco de dor. Dores físicas e morais,
emocionais e profissionais, crônicas e psicológicas. Imagino que o tema possa
interessar a muita gente porque todo mundo sente dor. Mas, falando das físicas,
são os mais velhos que sofrem mais. Aos 60 anos, Millôr Fernandes dizia que
estava na “idade do condor”. Com dor na lombar, com dor no joelho...
A
maturidade oferece a opção da sabedoria de aprender na dor ou ser derrotado por
ela, seja no corpo ou nos sentimentos. O sofrimento pode ensinar ou destruir
uma pessoa. O ressentimento, sentir de novo dores já vividas e passadas, é um
dos mais inúteis e nocivos sentimentos. Guardar memórias dolorosas e revivê-las
em sua tristeza, ou em sua raiva, ou em sua injustiça, é uma das maiores armas
de meu maior inimigo, o que melhor me conhece, o que sabe meus pontos
vulneráveis: eu mesmo. Assim como você mesmo. Nós somos vários em um só, e nem
todos gostam de todos, alguns nos empurram para frente e outros nos derrubam. E
estamos em constante transformação, não dá para se dizer quem se é, mas quem se
está sendo. Tudo está em movimento.
Voltando às dores, no caso as neurológicas, há sete
anos tive um problema grave na medula, que estava me deixando paraplégico. Duas
cirurgias resolveram o problema, mas depois de 20 dias imóvel no hospital
voltei para casa sequelado, com as pernas totalmente flácidas. Tive que
aprender a andar de novo, em um andador, e depois de meses de fisioterapia
diária e exercícios voltei a caminhar. Sempre sentindo dores, na lombar, nas
pernas, nos pés, a pior das sequelas — mas aprendi a conviver com ela. Como
disse o doutor Paulinho Niemeyer, que me salvou com as cirurgias, quando fui ao
consultório e me queixei das dores: “Só dói quando você lembra, né ?”
Verdade cruel. Quando estou feliz, me divertindo,
na praia, viajando, namorando, beijando, abraçando, nem lembro das dores. Em
compensação, quando minha cabeça e meu coração estão confusos, as dores
aumentam, se fazem presentes, como se materializassem meu estado de espírito.
Acho que muitos de nós às vezes sentimos isso, somatizamos, paciência, o jeito
é esperar passar. Tudo passa, tudo sempre passará.
Mas como lutar contra a dor, além de analgésicos?
Quanto mais fortes, mais perigosos, pelos riscos de dependência. Gosto muito de
acupuntura, quando feita por profissionais especializados em dor. Não cura a
doença, mas é eficiente para tirar a dor, que é o que interessa para quem está
sofrendo.
Também venho tomando óleo de CBD e microdoses
diárias de cogumelos Juba de Leão. Acho que tem ajudado a dar força e energia
para combater as dores — não para acabar com elas, mas mantê-las sob controle.
O exercício, a musculação, é paradoxal: para
diminuir a dor tem que doer mais. Mas sem ele, as dores aumentarão... Não há
opção.
Quanto a dores morais, humilhações, traições,
decepções, abandonos, perdas, não conheço receitas para combatê-las além da
terapia e a máxima do doutor Paulinho: “Só dói quando lembra, né ?”
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