Assembleia Legislativa do Maranhão

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O segredo dos primeiros colocados no Enem

 

Em tempos de Enem 2024 e Sisu, abundam notícias sobre os primeiros lugares em cursos concorridos. Títulos como “estudante revela segredo para tirar nota 1000 na redação”, “aprovado em primeiro lugar dá dicas” ou “conheça a história dos estudantes que se destacaram” se repetem todos os anos. Se houver alguma história de superação envolvida, melhor ainda.

Não há nada de novo nisso. Antes mesmo da criação do Enem, a curiosidade em saber quem eram os primeiros colocados em vestibulares sempre rendeu inúmeras reportagens. Este escriba — réu confesso — já cometeu algumas num passado remoto. Vários cursinhos, cientes desse apelo midiático, utilizavam até algumas estratégias artificiais de marketing. Muitas vezes, alunos que estudaram a vida inteira em outro estabelecimento ganhavam no último ano uma bolsa de estudo, em troca da possibilidade de terem seu rosto estampado num anúncio.

É natural a curiosidade sobre aqueles que mais se destacam num exame que mobiliza milhões de candidatos em todo o país. Também não há nada de errado em reconhecer o mérito desses alunos excepcionais, ou em querer saber um pouco mais sobre eles. O problema é quando, a partir desses casos, extrapolamos ao fazer inferências sobre a qualidade do ensino ou passamos a ideia de que, a partir das “dicas” ou “segredos” desses estudantes, poderemos aumentar o número de pontos fora da curva.

Neste ano, o próprio MEC divulgou em coletiva o número de alunos que tiraram a nota máxima na redação. Foram 12, uma queda em relação aos 60 de 2023, ou o menor número dos últimos dez anos, conforme algumas manchetes de jornais, que buscaram especialistas para entender as causas do fenômeno. Ocorre que, como insumo para o debate sobre a qualidade do ensino, é um dado irrelevante. Mesmo que no ano que vem o número triplique ou quadruplique, continuará sendo apenas uma curiosidade.

Um dado que merece atenção nas estatísticas de transição do ensino médio para o superior, esse sim por ser revelador dos nossos gargalos e das desigualdades educacionais, é o de estudantes que ingressam no superior logo no ano seguinte ao de conclusão no ensino médio. Ele foi divulgado pela primeira vez pelo Inep no ano passado, na apresentação de resultados do Censo da Educação Superior. Entre jovens de escolas particulares, foram 59%, quase o triplo do verificado nas redes estaduais (21%). As desigualdades raciais, mais uma vez, são gritantes: entre brancos a proporção fica em 37%, caindo para 20% entre pardos e 17% entre pretos.

Todos os esforços para ampliar o número de alunos da rede pública que participam do Enem são válidos, afinal, mesmo em universidades federais há cursos que ficam com vagas ociosas. E, do ponto de vista do retorno econômico individual, ter um diploma universitário segue fazendo enorme diferença em termos de renda e empregabilidade no mercado de trabalho. Sempre haverá casos excepcionais para despertar a curiosidade, mas, sem melhoria da aprendizagem para todos na educação básica, o máximo que colheremos serão avanços insuficientes.

 Por Antonio Gois

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Governo do Estado apresentará São João do Maranhão na cidade de São Paulo

  O Governo do Maranhão apresentará, nesta terça-feira (29), no vão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e no espaço d...