Na noite em que foi escolhido para
comandar a Igreja Católica, o Papa Francisco surpreendeu ao aparecer sem a
estola vermelha e o crucifixo de ouro usados pelos antecessores. Era o primeiro
sinal de mudanças na Santa Sé.
Eleito aos 76 anos, o argentino Jorge
Mario Bergoglio disse desejar “uma Igreja pobre e para os pobres”. A pregação
combinava com sua trajetória de vida.
Como padre em Buenos Aires, ele ficou
conhecido por frequentar favelas e bairros populares. Ao ser nomeado cardeal,
continuou a cruzar a cidade de metrô, sem seguranças ou assessores.
Bergoglio não era visto como favorito
no Conclave de 2013, convocado após a renúncia de Bento XVI. Assim que a
apuração dos votos terminou, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes soprou em seu
ouvido: “Não se esqueça dos pobres”.
“Aquilo entrou na minha cabeça.
Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis”, contou o papa, que escolheu o
nome na hora. Avesso a mordomias, ele dispensou o apartamento no Palácio
Apostólico e passou almoçar nas mesas comunitárias no refeitório do Vaticano.
Em 12 anos de pontificado, Francisco se
notabilizou pelo estilo simples e pelas críticas à concentração da riqueza. “O
mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer
neste dogma de fé neoliberal”, escreveu em 2020, na encíclica Fratelli Tutti ("Todos Irmãos", em
italiano).
O texto conclamava os católicos a
questionarem as desigualdades e o “império do dinheiro”. “Solidariedade é uma
palavra que nem sempre agrada”, afirmou. “É também lutar contra as causas
estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra e de
casa”, sentenciou.
A pregação por justiça social gerou
reações exaltadas. Em autobiografia lançada em 2024, Francisco explicou que
apenas defendia a doutrina social da Igreja. “Os pobres são a bandeira do
Evangelho e estão no coração de Jesus. Isso não é comunismo. Isso é
cristianismo em estado puro”, disse.
Francisco também incomodou a ala
conservadora do clero ao pregar a tolerância e o respeito às minorias. Embora
não tenha revisado os dogmas católicos, ele sustentou ideias progressistas em
temas como homossexualidade, divórcio, aborto e celibato de sacerdotes.
O papa ainda se dedicou à defesa dos
imigrantes, dos refugiados e dos civis afetados por guerras. Nem as internações
por problemas respiratórios interromperam sua rotina de ligações diárias para a
paróquia em Gaza.
Na última mensagem pública, lida por um
auxiliar no domingo de Páscoa, ele voltou a criticar o conflito e a cobrar um
cessar-fogo na região. Mesmo fragilizado pela doença, Francisco foi coerente
até o fim.
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